O céu estava sombrio - céu de dezembro - e o calçamento das ruas desaparecia sob a neve, neve de Londres, meio derretida e lamacenta. Nunca se me varrera da memória a recordação dessa neve, apesar de terem passado quinze anos desde a última vez que vira a sua triste cor.
Ali a tinha, diante de mim, com os mesmos sulcos e ocultando os mesmos perigos para os transeuntes. Havia apenas uma hora que eu tinha chegado da América do Sul a bordo do vapor-correio de Southampton, e ora estava encostado à janela do meu quarto no Hotel Morley, Charing Cross, contemplando com ar sombrio os jogos de água da Praça de Trafalgar, ora passeava agitadamente de um extremo ao outro do aposento, fazendo esforços para me distrair e pensando que não era um vagabundo desterrado, mas um homem que regressava ao seu país.
Aproximei a cadeira da chaminé e, enquanto atiçava o lume, evoquei através da chama o quadro da minha vida passada. Recordei-me da infância que tornou extremamente desgraçada a dependência de um tio velho e rico que me olhava como a um obstáculo porque não acreditava que eu viesse um dia a honrar o seu nome e os seus benefícios. Esta excelente pessoa tinha quase tanto de avaro como de vaidoso.