Sobre este livro:
Alguns elementos estilísticos e estruturais, presentes no mais novo livro de Miguel Carneiro, Corisco Vermelho em Casa Caiada, revelam um talento nato e inquestionável, aliando-se a uma vigorosa consciência artística, pouco afeita a certos romantismos de onde sua prosa parece ter beber, extremamente identificada com a com a natureza, com a realidade, bem como ligada demasiadamente a uma prodigiosa e inventiva memória, desenhando ora auto-retratos, ora confissões... ora a mais profunda reconstrução de si mesmo.
Não tenho nenhuma dúvida de que a obra de Miguel Carneiro é muito maior e mais importante do que imagina a grande maioria de nossos leitores, críticos e ditos estudiosos de nossa literatura, desacostumados a uma produção prosaica e poética capaz de captar, como nenhuma de sua geração, bem como aos de seu métier, a essência da vida espiritual do povo simples de sua região de origem com inegável engenho artístico e técnica lingüística, além de uma grande sinceridade em tudo o que escreve e como escreve; embora, para muitos, a obra de Miguel Carneiro pareça o resultado imediato de uma “sabedoria tosca”, basta uma leitura cuidadosa e verdadeira em suas intenções para descobrir de que se trata da produção de um autor que conhece muito de nossas tradições e heranças da literatura medieval européia, ainda tão abundante em nossos sertões. Como se já não fosse o suficiente, o talento natural na construção de suas formas expressivas, fazem de Miguel Carneiro um autor intrigante, de onde uma descoberta pode sempre surgir da esquina de um parágrafo ou no âmago de um termo ou expressão sertaneja, por exemplo, que lhe surge tão natural e inventiva, não se apresentando, por sua vez, como produto reciclado dos artificialismos lingüísticos que parecem moldar autores em toda parte... e para todos os gostos. SILVÉRIO DUQUE