Sobre este livro:
O leitor dificilmente deixará de um pouco se identificar nos versos que insistem e quase conseguem pintar um autorretrato psicológico ("A Poesia e a Musa nem sempre vêm da forma desejada, agora e para sempre"-diz o poeta- mas seus versos calam como um amém). No livro se inclui o trabalhado selecionado no 9º Concurso de Poesias da Universidade Federal de São João Del-Rei, qual seja:
SEMPRE
Ontem, hoje, amanhã...
Eu incluído, subjacente, pendente,
atento, distraído, abstraído...
Dentro de tudo dentro de mim,
buscando fora o que lá está,
ou só lá se traduz.
Ontem, hoje, amanhã...
Tudo o que se faz é um pouco de luz
sobre tudo que jaz sob o firmamento,
de cor oscilante: azul, branco, marfim...
E soberano domina o ente abstraído,
no todo misturado,
fundido, crescente lentamente...
Lerdo, dirigido e protegido
desde ontem,
ainda hoje,
até amanhã...
Eu pequeno, latente, nascente,
crescente, metafísico, terreno
desde ontem,
ainda hoje,
até amanhã...
e também o belo poema intitulado Deusa do Mal
DEUSA DO MAL
De imagens que se tem que faz-se o deus.
Então, deusa te fiz, deusa de tudo:
Rainha, Vênus, raiva e meu escudo.
Tanta coisa senti por olhos teus!
E Judas eu não fui nem fariseu,
Pois eu te amava, sim. Pude, contudo,
Enraivecer de dor e calar o “eu”.
O meu canto calou no canto mudo.
Envolvida em roupão, nua te via.
Tudo embalavas. Vinham orações
Alma e carne louvar: não discernia.
E tu, deusa ainda és: mesmas feições.
Tanto enfeitiças tu e nada guias:
Descaminho e torpor das emoções.